Às vezes a gente leva tanto tempo para tomar decisões que a vida se encarrega por nós.
Dado os últimos acontecimentos da minha vida que (ainda) não pretendo elaborar aqui, tenho pensando bastante nessa máxima de que a vida se impõe. Os dois últimos meses foram bem difíceis, envolvendo problemas de saúde e uma sensação constante de que o pouco de controle sobre vida que tenho fugia, escorrendo por entre os meus dedos.
Tá tudo (quase) bem agora e estou vivendo (mais um) reajuste de rota. Nesse período, voltei a ouvir alguns podcasts para preencher meus dias. Em um dos primeiros episódios do Gostosas Também Choram, da Lela Brandão, ela fala sobre intuição. Mais especificamente, sobre a intuição feminina. E não tem nada de místico nesse papo, pois parte do princípio que a intuição é um sentimento manifestado a partir de uma tomada de decisão, um conhecimento inconsciente pautado em experiências anteriores.
Tal qual a Lela, eu também não usaria o adjetivo ‘intuitiva’ para me definir. Isso porque não costumo confiar muito na minha voz interna antes de qualquer parecer. Fico enrolando, debatendo o assunto incessantemente e pedindo conselhos nas sessões de terapia e/ou com pessoas próximas. Tudo sob o pretexto de ‘respeitar meu tempo’.
Até que a vida se impõe e a escolha é tomada por mim.
Na maioria das vezes, o resultado é aquele que esperava – ainda mais depois de tanto refletir sobre todos os cenários possíveis e imagináveis. Mas eu não tive agência sobre a situação, entende? Não tomei as rédeas da minha própria vida e disse ‘é assim que quero que aconteça’.
Esse é um dos pontos de atenção que levantei recentemente. Especialmente quando o assunto são aquelas decisões mais importantes e sérias – aquelas mesmas, que reajustam rotas e mudam os caminhos que seguimos. Quero confiar mais no meu discernimento nesses raros momentos que a vida nos proporciona um gostinho de ter controle sobre a situação.
No podcast, a Lela comenta sobre como a experiência masculina é diferente e a gente mal fala sobre ‘intuição masculina’ pois os homens crescem aprendendo a confiar em si mesmos, num geral. Eles simplesmente sabem – não confabulam, não passam pelo aspecto intuitivo da tomada de decisão, não precisam de (tanta) validação. Porque seria tirar deles o poder de escolha. Como mulher, esse processo é um pouco mais complexo – individualmente e coletivamente. E, talvez, parte da minha insegurança em relação à intuição venha daí: num geral, temos as nossas escolhas descredibilizadas, questionadas e até mesmo zombadas.
Ao invés de ouvir a voz dentro da minha cabeça que duvida de mim mesma e quer me calar, tenho tentado ouvir aquela outra voz, mais fraquinha e tímida, que fala “Quando você passou por tal coisa tal coisa aconteceu… E se a gente fizesse assim?”. Ainda é um esforço ativo, mas tudo nessa vida precisa de prática, não é?
Tenho fé que, logo menos, esse esforço vai se transformar em um movimento mais fluido e natural, que vou parar de confiar tanto nas vozes externas pra validarem as minhas escolhas.
E simplesmente confiar em mim mesma.
foto: Thomas Jackson faz registros etéreos usando tules coloridos!